Aprender a rezar na Era da Técnica, editado em 2007, é o livro que completa a tetralogia «O Reino», juntamente com Jerusalém, Um Homem: Klaus Klump e A máquina de Joseph Walser. E, na minha opinião, o melhor dos quatro.
É estranha a forma como a escrita simples e objectiva (talvez até mesmo "fria") de Gonçalo M. Tavares tem a capacidade de comover. E comove pela sua forma quase maquinal. Nas suas personagens, nas suas histórias, não há espaço a grandes emoções ou grandes sentimentos, essa comoção é obtida pela brutalidade e pela - lá está - "frieza" que caracteriza grande parte dos acontecimentos.
"Livros sobre a condição humana", costuma-se dizer dos livros de Gonçalo M. Tavares. De facto, Lenz Buchmann, a personagem principal, confronta-nos com a natureza mais austera da condição humana. Há aqui uma espécie de austeridade emocional, de permanente estado de guerra, em que as decisões (ou acções) são tomadas com uma naturalidade brutal e total ausência de atrito, ou forças em seu contrário. Lenz Buchmann é um homem a quem o desprezo e a insensibilidade são naturais. Para quem o mundo da lógica e da razão valem mais que o mundo da sensibilidade e da compaixão. Como se de um estado de emergência se tratasse, em que as consequências e os efeitos secundários são despromovidos na sua importância em detrimento de um fim ou bem maior; Lenz Buchmann vê as pessoas como objectos no que ocupam o seu caminho, ou como ferramentas que nas suas mãos devem ser usadas até deixarem de ser necessárias.
Neste Aprender a rezar na Era da Técnica, os acontecimentos e as decisões são como um fluxo, como se de uma erupção vulcânica se tratasse; escorre lentamente a magma que, na sua serenidade irreversível tudo destrói e tudo modifica, sem que nenhuma emoção vença a razão: a Era da Técnica.
Compreendo agora o facto de ter vencido, em 2010, o Prix du Meilleur Livre Étranger, em França; e compreendo aqueles que, como Saramago (que lhe previu um futuro Nobel), Vasco Graça Moura, Eduardo Lourenço, Pedro Mexia, lhe vaticinaram uma importância ímpar no futuro e presente da Literatura Portuguesa. Sem dúvida, o escritor português que mais gosto e um dos melhores livros que já tive oportunidade de ler.
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