2011-01-02

Livro #13


 Depois da tradução de O Leilão do Lote 49 pela Relógio D'Água, em 2009, coube agora à Bertrand a tarefa de continuar a tradução da obra de Thomas Pynchon em Portugal. Se a publicação de Vício Intrínseco se deve à vontade em traduzir a obra de Pynchon ou acontece apenas pelo sucesso das vendas que o livro teve nos EUA, não sabemos; mas que sirva, pelo menos, de alavanca à publicação breve de traduções dos trabalhos mais exigentes e "difíceis" de Pynchon como Gravity's Rainbow, por exemplo.
 Inherent Vice, ou Vício Intrínseco, é satisfatoriamente descrito na sua própria contra-capa como sendo:

 "Em parte noir, em parte farsa psicadélica, protagonizado por Doc Sportello, detective privado, que de vez em quando se ergue de uma névoa de marijuana para assistir ao fim de uma era."

 Para quem não está familiarizado com o universo "pynchiano" pode ser difícil deslizar sem atrito pelas suas narrativas. Ao contrário dos mais canónicos dos romancistas americanos (Roth, McCarthy, Bellow...) a escrita de Pynchon não é propriamente séria ou formal. É como se tivéssemos um Tarantino novelístico que parodia, exagera, serve-se do absurdo a todo o momento, e que faz disso o seu estatuto. As suas histórias não estão encharcadas de lógica ou realismo, atributos mais convencionais.
 Ora, isto pode levar ao afastamento do leitor a menos que a determinada altura compreenda que os moldes em que se movimenta o autor não são os habituais e comece assim a desfrutar da "história pela história". E é a partir daí que os seus livros começam a ganhar interesse. Uma vez dentro da "frequência" da escrita de Pynchon, tudo é magistral. A escrita, as referências musicais e culturais que são a marca de água do autor, os nomes das personagens sempre criativos, a forma quase enciclopédica com que constrói um mundo dentro do próprio livro e que quase nos obrigariam a uma extensa pesquisa bibliográfica para as compreender na totalidade. É um escritor que nos obriga a compreendê-lo primeiro e desfrutá-lo depois.
 Vício Intrínseco, apesar de ser, segundo a imprensa, uma obra mais "relaxada" e menos ambiciosa que os trabalhos anteriores (quer em tamanho quer em complexidade), é mais um daqueles livros de infinito potencial que me faz gostar cada vez mais de Thomas Pynchon e, consequentemente, ser uma pessoa "de muito melhor com a vida".

Fica aqui também um grito de revolta contra a incompetente adaptação da tipografia tipo luz-de-néon da versão portuguesa. A milhas de distância da versão original:

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