Rapar um cabelo de mais de 50cm, mais do que um acto de higiene visual e saúde profissional, foi uma bela metáfora da vida.

Estranho hábito, este, o de Jean-Luc Godard, de ficar com as miúdas dos filmes.

Fantas 2010: "Hidden" - Pål Øie (2009)

 Filme norueguês 'bonzinho': gajos que regressam à terra natal, casas assombradas, florestas que terminam em penhascos e miúdas giras. Como todos os bons filmes nórdicos.

"a pretty convulsive combination"

Uma besta destas a cantar uma coisas destas, só pode dar uma coisa destas.

independente #2

E por falar em 'livrarias independentes com pinta', lembra-me agora uma que me apanhou enquanto tratava de me perder numa das diagonais da avenida que vai de Karaköy a Taksim, em Istanbul. Os livros colocados em jeito de mercearia, segundo a rigorosa ordem do caos. Onde deveriam estar maçãs estavam páginas e páginas de traduções; onde deveriam estar prospectos, os preços marcados à mão; no lugar de "espaços-perfeitamente-limpos-cuidadosamente-colocados-entre-livros", um gato que ressona. (e dos amarelos, meu deus, dos amarelos!)

Não quero acreditar que o clássico Akıl Çağı de Sartre tenha alguma coisa a ver com isso, mas livraria que é livraria, alfarrabista que é alfarrabista, tem o seu "gato que dorme" e este apareceu-se-me assim. No local onde normalmente estaria um O Símbolo Divino ou A Fúria Perdida. Em turco.

independente

what a neighborhood bookstore should be, via Bibliotecário de Babel

Ai fodasse!

Mas que sentido faz a minha vida então? "E agora, o que é que eu faço"? (e a esta pergunta não está apenas adjacente o facto de hoje, mais do que nunca, ter estado iminente a minha morte por atropelamento de camião TIR)

Livro #7

Todo-o-Mundo - Philip Roth (2006)

Uma espécie de A Morte de Ivan Ilitch do novo século. O definhar, o caminhar para o fim, a degradação física, a morte dos amigos, as solidões do fim. Os pregos lentos no caixão "corpo" revistos em análise por um morto. Não recomendado a pessoas em estado depressivo.

Ui

maradona e César Monteiro, tudo no mesmo post:

"O Broche Chinês".

Ouvido na farmácia:

"Fazem falta pessoas como você."

Como eu ou como "eu"?

"Lost"

01 02 45 48 49 sams quadros

nota de rodapé.

Isto do um a um foi só para desenjoar, para não parecer que "de goleada em goleada" a gente coisa.

nota de rodapé

Isto de andar a ler o Luiz Pacheco... Eu corro o risco de chegar ao trabalho e mandar um "puta que os pariu" sonoro.

Haja clemência. Eu depois explico.

Fantas 2010: "Ward n.º6" - Karen Shakhnazarov

O primeiro filme decente e contemporâneo, ao mesmo tempo, que vi no Fantasporto deste ano. Realizado por Karen Shakhnazarov - teoricamente o "mais conceituado realizador russo da actualidade" - e candidato russo ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, baseia-se num conto de Tchekov o que, só por si, já é garantia de qualidade no enredo.
Num hospício, um médico que a determinada altura, fruto de longas discussões com um dos seus "doentes", começa a questionar-se sobre o rumo da sua vida (cá está o sentido da vida), a monotonia irreversível, o conceito de "doente mental", até acabar ele próprio por ser considerado um. O filme está cheio de cenários pós-soviéticos, edifícios comunistas degradados, o vodka como escape e, sobretudo, bons actores. Considerando que eram mesmo actores e não doentes mentais (mesmo) a fazer de doentes mentais.

Fantas 2010: "1" - Pater Sparrow

Quando não se percebe a história, os acontecimentos ou o sentido da vida, é complicado gostar de seja o que for. É preferível guardar o Taxidermia como referência do cinema húngaro.

Fantas 2010: "Alphaville" - Jean-Luc Godard (1965)

Depois de um filme de categoria nula, o estômago pedia uma aposta mais segura. A escolha recaiu na ficção científica e comédia de mestre Godard.

Retrospectiva Cinema Francês dos anos 60, Pequeno Auditório do Rivoli cheio e aconchegante (onde há dois anos vi a estreia do fabuloso Mundo Catita), legendas 'en español', sande de frango à pressa, miúdas giras na tela (típico do realizador) e nos lugares adjacentes, (e à porta, e na rua, e nos corredores, e no bar, e na barraquinha da Fnac, etc.)

Fantas 2010: "Guilt" - Vassilis Mazomenos (2009)

Um filme tão mau que nem por ser grego.

Fantas 2010: E ao intervalo...

...filmes razoáveis: 1,
filmes maus: 2

E não me digam que vou ter de ir ver um Rohmer para ir a prolongamento...

Fantas 2010: always look on the bright side of life

E para algo completamente diferente, o lado positivo da vida de desempregado/despedido/dispensado é poder ter um Fantas em condições decentes, ou seja, ver mais de dois filmes por edição. A primeira tentativa, falhada já agora, foi ir ver o novo ópus de Chan Wook Park, realizador sul-coreano de Old Boy (e tantos outros magníficos). Acontece que já estava esgotado - sábado à noite, óbvio - e tive de ir ver o Óscar de Melhor Actor ao Arrábida (onde já abriu mais um belíssimo sítio onde eu podia estar a trabalhar, por gostar muito de "farmácias de shopping").

Curiosamente, além de Old Boy, os outros dois filmes de Chan Wook Park que vi foram no Fantasporto: Sympathy for Lady Vengeance (que é todo ele muito oldboiano) e I'm a Cyborg But That's Ok (que tem um trailer muito giro mas que foi um filme que acabou com eu a dormir no Grande Auditório do Rivoli por motivos que seriam demasiado aborrecidos de explicar e incluem variantes como "filmes húngaros", "horas de exames" e "problemas técnicos da organização").

Ora portanto o programa para hoje é um filme grego às 17h e um Godard de mil novencentos e sessenta e tal às 21h, para desenjoar. Declaro aberta a minha "semana fantasporto".

"A Single Man" - Tom Ford (2009)

Tom Ford é um estilista que decidiu fazer um filme. É portanto um "filme de estilista", "cinema de autor". Um gay movie com pinta e sobriedade. E é bom porque o homem sabe do que fala.

(e esta imagem, que também é muito bonita)

Maoísmo

E naturalmente que a melhor coisa de La Chinoise são os lábios maoístas de Veronique Supervielle (por Anne Wiazemsky).

"La Chinoise" - Jean-Luc Godard (1967)

«Il faut confronter

les ideés vagues avec

des images clairs»

Da wikipédia da coisa: "La Chinoise (1967) saw Godard at his most politically forthright so far. The film focused on a group of students and engaged with the ideas coming out of the student activist groups in contemporary France. Released just before the May 1968 events, the film is thought by some to foreshadow the student rebellions that took place."