«O ecrã fundo em negro. O filme acabou.
4. Eu não consigo acabar sem vos fazer uma pergunta. Alguma vez pensaram que o grande plano é a única figura da gramática do cinema que só no cinema existe e que não é concebível em qualquer outra arte? Pintores pintaram grandes planos, mas o quadro impede-nos de os ver como tal, a não ser que encostemos a cara à tela, em movimento nosso e não da pintura. Não é maneira de a ver, não é movimento suposto ao espectador.
Mas a câmara pode o que o nosso olhar não pode. E a câmara de Bergman pode mais que qualquer outra câmara, mesmo a de Griffith. Neste filme, vai ainda mais longe. Ao acercar-se mais e mais dos quatro rostos e das quatro vozes, para além dos corpos, dá-nos a ver almas. Impossível? Não para esse génio de todos os possíveis, chamado Ingmar Bergman.»
21-1-2005, por João Bénard da Costa
(ou ainda por Eduardo Prado Coelho)
E eu acrescento que Saraband é um dos filmes mais "simples" e mais "belos" que já tive oportunidade de ver. O trabalho de actriz de Liv Ullman nos grandes planos captados por Ingmar Bergman comove de tão sublime.
Acaba o filme e queremos imediatamente as sonatas de Bach, o pó dos livros, o ruído da madeira a ranger, a vista sobre o lago em Orsa, por entre os bosques... E nós agradecemos. Nós, agradecemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário